segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Rescaldo da workshop de descentralização da energia

Na Quinta-feira passada fui à Agência Portuguesa do Ambiente para a Workshop da Construçãosustentável.pt em Energias Renováveis - Descentralização do armazenamento em cidades.

A plateia estava cheia e para iniciar a discussão a Dra Livia Tirone da ICS utilizou termos como "prosperidade sustentável", "resiliência urbana" captaram a minha atenção.

Continuou com "a cidade tem o poder mas também a fragilidade", "os recursos que pensávamos serem finitos não o são" e "já não é um desafio top-down", estava a gostar.

Acabou a apresentação com "Estamos a pagar as externalidades por se construir com o mais barato", "Portugal tem potencialidade em radiação solar, vento, chuva e temperaturas" e "temos de mudar o modelo económico de acordo com o nosso planeta". 

Assim vai, pensei eu. Seguiram-se as apresentações da RCM n.º2/2011 a Eco-AP que prevê o aumento da eficiência energética do estado em 20% relativamente aos valores actuais para daqui a 20 anos! 

A da Self-energy que prevê a descentralização do armazenamento de energia nos edifícios que passam a fazer parte de uma smart-grid em conjunto com outros sistemas de produção e armazenamento.  

E por fim, e para acordar a plateia, a apresentação da Mobi-e que pretende criar uma rede do tipo multibanco para o fornecimento de electricidade a carros eléctricos. E que estes passem a funcionar como uma mega-bateria que ajuda a compensar os picos de produção e armazenamento de electricidade funcionando os utilizadores de automóveis como compradores/vendedores de electricidades em vez de apenas consumidores. (daqui a 10/15 anos)

Para finalizar a Dr.a Livia Tirone disse (com outras palavras) que "temos que ser mais tolerantes com o greenwashing pois estes têm como finalidade mexer com as políticas do ambiente"

Enfim, vi uma carrada de soluções técnicas difíceis de implementar a curto prazo, muito crentes no avanço da tecnologia como salvadora, com uma visão "business as usual" com pouco enfoque em alterações comportamentais mas extremamente viciadas na eficiência e sem considerar o pico do petróleo.
Aliás até tinham um estudo que dizia que por altura do choque petrolífero a diminuição do consumo foi de apenas 6%, pelo que os 20% de redução eram óptimos (devem referir-se ao choque petrolífero dos US nos anos 70 e não sei em qto tempo foi medida essa redução)

O problema é que a eficiência por si só não resolve o problema, e nos vários cenários apresentados os oradores desconheciam ou deliberadamente omitiam o paradoxo de jevrons que diz que aumentos de eficiência levam a aumentos ainda maiores da procura (consumo). Diziam, por exemplo, que se 50% dos automóveis hoje em dia fossem eléctricos o consumo ultrapassava bastante a potência instalada, mas que se houvesse bi-direccionalidade das baterias (prevista para 10 a 15 anos) a potência instalada já permitia coexistir todo estes carros eléctricos. No entanto referia custos por km bastante inferiores ao dos automóveis a gasóleo e nos cálculos utilizava o referencial de 15000km por ano. (Se o litro do gasóleo baixasse agora para os, digamos, 0,5€ tu circulavas mais ou menos?)

Nunca me fez tanto sentido a TRANSIÇÃO desde que saí daquela conferência na minha bicicleta (que não tem estacionamento previsto na Agência Nacional do AMBIENTE).

Se quiserem ver fotografias e outras opiniões acerca do evento e esperar pelos PDFs das apresentações vão aqui.



3 comentários:

  1. Enfim, mais do mesmo. Cultura economista, montada num conjunto de pressupostos convenientes e pouco credíveis.... :p

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  2. gostava de ter ido... mas já vi que é mais do mesmo... não perdi nada!

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  3. Sim os pressupostos são dogmas, logo não se pode esperar muito mais.
    Até parodiaram com quem considerou, no princípio do sec. XX, Manhatan insustentável por causa da quantidade de palha que era necessária para alimentar as mulas e cavalos para tanta gente...como se a mudança fosse igual ;o)

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